Crônica: Maria - programa #2
Ela tinha em torno de 15 anos, sabia que se casaria logo, que sua vida seria cuidar da casa, dos filhos e de um marido, marido a quem ela foi prometida desde o seu nascimento. Aquela menina, como tantas outras da sociedade em que vivia, não podia escolher o próprio futuro, não podia estudar e nem falar em público.
Seus dias eram iguais, sua vida já tinha um rumo.
Mas como na vida de tantas outras mulheres pelo mundo, seu rumo tão planejado por outros foi por água a baixo. A jovem engravidou e ainda era solteira, em suas condições seu destino também era certo, tão certo quanto assustador. Seria abandonada pela família, perderia seu casamento arranjado e morreria apedrejada pelos vizinhos. Quem acreditaria que uma jovem chamada Maria, destinada ao julgamento conservador daria início à fé mais professada do mundo?
O casamento de Maria aconteceu, seu filho nasceu, cresceu e viveu o suficiente para contrariar as ideias de sua época. O filho de uma mulher que engravidou solteira e aos 15 anos de idade, que tratou as mulheres como seres humanos. Quem escuta esta história nos dias de hoje não consegue mensurar o quanto as atitudes do filho de Maria eram revolucionárias.
- Que rapaz estranho! - cochichavam as pessoas.
- Conversa com mulheres em público! Logo elas, tão impuras!
- O que ele pensa que está fazendo?
Alguém deve ter dito, quando ele resolveu que não deixaria uma mulher ser apedrejada:
- Como ele pode visitar duas mulheres que estão sozinhas em casa?
Ele não se importou com esse argumento e foi oferecer sua amizade mesmo assim.
Era estranho, era errado, eram apenas mulheres. Porque ele as tratava com respeito?
Talvez essas atitudes tão feministas para sua época sejam frutos da criação de uma mãe que engravidou solteira e aos 15 anos, como tantas outras meninas ainda nos nossos dias.
Meninas que são julgadas e, de certa forma, apedrejadas por muitos que se dizem seguidores do filho de Maria.
Crônica por: Raquel Baracho
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Para ler a crônica do programa #1 (literatura), basta clicar aqui.
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